terça-feira, janeiro 02, 2007

"The Prestige" by DC

“The Prestige” vive da ilusão, iludindo à primeira vista o espectador, desiludindo aqueles que procuram algo mais num filme que vive unicamente para surpreender. Nolan distingue-se sobretudo através da montagem, evidenciando o corte como ferramenta essencial de uma narrativa descomposta. Atingindo sem intenção a desobstrução das obras, peca no seu afastamentos às personagens. Em “Memento” o filme consiste unicamente na forma como a acção é contado, abstraindo de tudo o resto. Reflecte-se a intenção única de ser original, sem intenção alguma de atingir o hemisfério do sensível. No entanto em “Batman Begins” Nolan faz aquilo que anteriormente faltava nos filmes do super herói de Ghotam, centrando-se nos valores morais de Batman frente a um mundo corrupto e profano. Entusiasmado com a estreia desta última obra de Nolan, esperava de “The Prestige” um filme deveras inteligente, com personagens fortes e bem construídas. Encontrei insatisfação frente a ambas as expectativas.
Esta obra apresenta bons momentos e tecnicamente (no que diz respeito à reconstrução temporal) está bastante bem conseguida. O poder de associação, como o Carlitos anteriormente referiu, está bem demarcado. Mas, aquilo a que remete apresenta-se incompleto e contraditório. As decisões da personagem interpretada por H.Jackman, toda a sua evolução feita dentro do mundo da magia é mal desenvolvida. É evidenciada a sua alteração, o seu desapego ao seu lado humano e sensível, tornando-se num ser cedente de vingança disposto a sacrificar a vida de um ser vivo como anteriormente nunca o faria. Mas Nolan não o sabe fazer, não existindo um grau crescente na personagem, mas sim uma transformação desastrosamente repentina. No que diz respeito à personagem interpretada por C.Bale, o pouco que resta de uma personagem com carisma é mal delineado, ridicularizando-o com o aparecimento de um irmão gémeo. O filme não se preocupa com as personagens, mas unicamente com a expectativa criada na audiência em volta de algo que no final se torna evidente e inócuo. As motivações que movem os protagonistas são desinteressantes, pouco evidentes e deveras pouco convincentes. O poder de uma rivalidade constante não se mostra com força suficiente para aguentar um filme de duas horas e vinte, tornando-se inevitavelmente enfadonho. Ao longo da acção surgem diversas problemáticas, criando-se o paradigma Tempo vs. Twist que existe em diversos filmes dependentes unicamente de um final que surpreende. “The Prestige”, obra escrava de um final, não vive cada momento, vive apenas para um… o twist. O tempo é mal aproveitado, tratando diversos plots, não aprofundando nenhum. A capacidade de matar residente num ser débil, a dualidade existente entre o amor e a obsessão, a multiplicação de um ser… Todos estes temas fariam um bom filme, mas a dependência do final não o permite. Friso assim a minha opinião… As personagens não devem depender da narrativa, a narrativa deve depender das personagens. Os protagonistas de “The Prestige”, tal como M.Caine e S.Johansson, pura e simplesmente não existem. As suas decisões, motivações e sentimentos não apresentam variáveis delineadas pela construção de uma personagem. A narrativa demarca as suas trajectórias, e as deliberações tornam-se dependentes de aquilo que Nolan pretende atingir… um reviravolta forçada…